Todos os dias somos confrontados com notícias que nos trazem informação sobre as últimas tendências da evolução na Medicina.

Muitas são apelativas, promissoras, até revolucionárias. Nesta fase em que vivemos, considero ser importante distinguir algumas das inovações com maior potencial transformativo, para que como sociedade possamos fazer uma correta gestão das nossas expectativas coletivas, e guiar o investimento do nosso tempo e recursos. Estas são as 4 tendências que, na minha visão, terão mais impacto nas nossas vidas, e na das próximas gerações.

A telemedicina ou uma nova forma de acesso aos cuidados médicos

O desenvolvimento tecnológico dos equipamentos de comunicação trouxe-nos os smartphones, os tablets, as televisões inteligentes e novas formas de comunicar com quem está do outro lado do globo. Esta nova forma de comunicar foi um dos grandes desenvolvimentos do século e está disponível para quase todas as pessoas do mundo. No entanto, ainda estamos longe de explorar todo o potencial clínico desta revolução.

Este avanço tecnológico, se corretamente desenvolvido, pode vir a alterar o futuro da Medicina. Pode criar novas formas de comunicar e de observar um doente. Podemos, por exemplo, acompanhar o estado de saúde de um doente a milhares de quilómetros de distância, sem acesso a um profissional que fale o seu idioma.

Consideramos também que o acesso aos serviços de saúde ficou mais fácil com esta tecnologia, em que se reduzem as necessidades de deslocações por parte do doente e do médico, o que em muitos casos pode significar um aumento do número de consultas realizadas e também da adesão às próprias consultas.

Impressão anatómica em 3D

As impressoras 3D surgiram há cerca de uma década, e pareciam destinadas a fabricar peças de pequenas máquinas domésticas ou para substituir peças de automóveis. Nos últimos 2-3 anos começamos a receber cada vez mais relatórios e notícias que davam conta, por exemplo, de estudos realizados com válvulas cardíacas fabricadas por impressoras 3D. Em poucas horas, podemos hoje obter válvulas que ajudam a salvar vidas.

Esta parece ser uma das mais nobres utilizações das impressoras 3D. Os modelos anatómicos impressos em 3D são também utilizados em contexto académico para que os alunos de Medicina possam ter um contacto mais aproximado com a realidade do corpo humano.

Num futuro próximo, estas máquinas impressoras podem começar a servir a medicina de uma forma mais ampla, como, por exemplo, através da impressão com materiais biológicos para transplante de órgãos, ajudando a salvar ainda mais vidas.

Estimulação Cerebral Profunda

Desde o início deste milénio que a Estimulação Cerebral Profunda (ECP) é considerado um dos maiores desenvolvimentos tecnológicos na área da neurologia. Esta é uma técnica cirúrgica que faz a medição direta da atividade cerebral e ao mesmo tempo aplica um estímulo elétrico ajustável, com fins terapêuticos. A ECP é habitualmente aplicada em doentes com patologias do forro neurológico (Parkinson ou Síndrome de Tourette) e do forro psiquiátrico (Depressão major crónica ou Perturbação Obsessivo-compulsiva).

Esta técnica cirúrgica pode ser feita com o doente acordado, em que a atividade cerebral é medida e uns fios elétricos condutores são colocados através do crânio até à zona especifica do cérebro onde se pretende aplicar o estímulo elétrico, para que a patologia possa ser tratada.

Um dos casos mais impressionantes reportado recentemente foi o do violinista Still Makin. O Sr. Still, depois de muitos concertos, começou a notar um certo tremor na sua mão direita, precisamente a mão que segurava o arco do violino. Este tremor começou a prejudicar o seu desempenho nos concertos e foi então que decidiu recorrer ao ECP. O tremor desapareceu e, demonstrando uma capacidade de recuperação extraordinária, o Sr. Still pode continuar a ter um futuro brilhante como violinista.

No entanto, existem ainda algumas questões relacionadas com a utilização da ECP, tais como uma certa incerteza sobre as áreas cerebrais que devem ser estimuladas, tendo em conta a patologia do doente. Mas acreditamos que nos próximos 5 anos, haverá novos desenvolvimentos e avanços desta tecnologia, que poderão significar a aplicação de novas terapêuticas para os distúrbios mais desafiadores que afetam o cérebro humano.

Robótica e Inteligência Artificial

A utilização de robôs na Medicina já tem um passado de algumas dezenas de anos, mas foi no início dos 2000 que se verificaram os grandes avanços tecnológicos, com a fabricação de robôs que apoiam os médicos em cirurgias e que possuem uma precisão, fiabilidade e segurança que garante um aumento dos benefícios para o doente e uma diminuição dos efeitos adversos, como hemorragias e cicatrizes.

É também de notar o desenvolvimento tecnológico que a Imagiologia Médica tem tido nas últimas décadas, em que através de um sistema informático e de imagens radiográficas, é possível diagnosticar (recorrendo á Inteligência Artificial) várias doenças, nomeadamente acidentes vasculares cerebrais, tumores e hemorragias cerebrais.

Ainda na área da Robótica, destacamos o papel que a nanorobótica vai desempenhar nos próximos anos. Este tipo de robô, que já existem em várias formas e materiais, possui uma tecnologia extremamente avançada que lhe permite navegar através dos vasos sanguíneos para executar uma ação médica. Nos próximos 5 anos, talvez consiga penetrar nos circuitos cerebrais e estimular as redes neuronais que ficaram deterioradas devido a patologias neurodegenativas, tal como a doença de Alzeihmer.

A utilização da robótica e da inteligência artificial deve sempre garantir a proteção e a segurança do doente, e para salvaguardar esta necessidade a União Europeia assinou em 2018, a Declaração de Cooperação em Inteligência Artificial.

A utilização da robótica e da inteligência artificial deve sempre garantir a proteção e a segurança do doente, e para salvaguardar esta necessidade a União Europeia assinou em 2018, a Declaração de Cooperação em Inteligência Artificial.

Historicamente, o futuro da Medicina indicia o futuro do Homem. Por esta razão é tão importante perguntarmo-nos, agora mais do que nunca: Como vai ser a Medicina daqui a 5 anos? Que transformações a vão moldar? É um debate público de elevada urgência, porque tem a capacidade de influenciar o nosso percurso enquanto sociedade.