Uma ameaça à saúde humana, sendo atualmente um verdadeiro fator de risco de morte prematura para 11% da população de Portugal. Como poderão as seguradoras, prestadores clínicos e empresas combater esta ameaça?
As doenças não-transmissíveis, entre as quais estão as doenças cardiovasculares, o cancro, as doenças respiratórias ou a diabetes, são a principal causa de morte em todo o mundo. A pressão arterial elevada, alterações dos níveis de açúcar ou de gorduras no sangue, excesso de peso são os principais fatores de risco para todas elas que dependem muito do comportamento. Assim, o sedentarismo, o consumo de álcool, a ingestão excessiva de sal, o tabagismo, entre outros, aumentam a probabilidade de ser uma das pessoas que, a cada 2 segundos, morre prematuramente por doenças não transmissíveis.
A exposição acrescida a estes fatores de risco tem sido um dos fatores responsáveis para o rápido e importante crescimento do número de pessoas atingidas por estas doenças, tão elevado que tem sido considerado uma Pandemia., Os sistemas de saúde deparam-se com cenários epidemiológicos caracterizados pelo envelhecimento da população e uma “carga” de doenças crónicas não transmissíveis que irá, largamente, ultrapassar o peso de 60% das causas de morte que estava previsto para o ano 2020. É de notar também que o número de casos nos jovens tem também crescido de modo significativo.
As doenças não-transmissíveis matam por ano mais de 40 milhões de pessoas, das quais 15 milhões entre os 30 e os 70 anos. A maioria (80%) destes casos de morte “prematura” acontece em países com rendimento baixo ou médio, como é o caso de Portugal. A redução da incidência destas doenças é essencial e devem ser feitos esforços de políticas públicas e de saúde, mas o esforço individual e quotidiano é central neste combate: a responsabilidade é de todos nós, de cidadãos a instituições e organizações – cada um pode fazer a sua parte.
Quais as doenças doenças não-transmissíveis que causam maior impacto?
As doenças cardiovasculares, que são potenciadas por vários fatores de risco, tais como a alimentação inadequada, a inatividade física, o consumo de tabaco e de álcool, a hipertensão arterial ou a diabetes, representam o maior número de mortes dentro das doenças não-transmissíveis – 17,7 milhões por ano – , seguidas das neoplasias – 8,8 milhões por ano -, das doenças respiratórias – 3,9 milhões -, e da diabetes – 1,6 milhões por ano.
Prevenção e controle de doenças não-transmissíveis
A melhor prevenção é atuar nos fatores de risco, uma vez que estas doenças podem afetar qualquer pessoa: Afinal, 6 pessoas em cada 10 têm excesso de peso e uma em cada dez pessoas tem diabetes. O risco de cada um depende também do seu património genético. Mas a verdade é que a maior parte destas doenças podem ser prevenidas, ou adiado o seu aparecimento, através da implementação de medidas de prevenção e controle, principalmente medidas de redução do risco cardiovascular, do cancro, da diabetes e das doenças crónicas respiratórias. A prevenção passa principalmente por alterações do comportamento da pessoa, objetivo muitas vezes difícil de conseguir sem qualquer apoio. Para modificar esta grave situação são necessárias medidas e políticas de saúde adequadas, mas também a nível do indivíduo são necessários programas de apoio na mudança e gestão do comportamento o suportam .
As grandes ações a tomar foram definidas na 70ª Assembleia Global de Saúde, realizada no ano de 2017, organizada pelas Nações Unidas e pelos seus estados membros, em parceira com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Mas quais foram as medidas e o que foi feito?
A posição de Portugal no combate às doenças não-transmissíveis
A Organização Mundial de Saúde (OMS), estabeleceu um monitor de progresso, baseado em 10 indicadores que se reportam à atividade desenvolvida em cada país, no combate às doenças não-transmissíveis. Assim, Portugal compromete-se com uma série de protocolos, directrizes e medidas de avaliação da saúde da sua população – mas o destaque vai para a implementação de medidas que procuram diminuir o consumo de álcool e tabaco, assim como a prática de dietas não saudáveis. O reforço e implementação de programas motivacionais para a promoção da atividade física é outro dos indicadores que procuram reduzir os fatores de risco das doenças não-transmissíveis.
Segundo a OMS, Portugal está bem classificado, mas não está entre os melhores na aplicação destas medidas. Principalmnte no que diz respeito a medidas para combater o consumo de tabaco e do álcool e na promoção de uma alimentação mais saudável:
Impacto dos seguros de saúde no tratamento de doenças não-transmissíveis
As evidências indicam que ter seguro de saúde está associado a uma maior probabilidade de obter tratamento para doenças não transmissíveis, e ajudam a mitigar disparidades socioeconómicas e regionais na probabilidade de tratamento. Da mesma forma, ter seguro de saúde também parece criar uma menor probabilidade de contrair empréstimos ou vender bens para pagar serviços de saúde. No seu conjunto, a cobertura de seguros pode servir como um instrumento político importante na promoção do tratamento de doenças não transmissíveis e na redução das desigualdades no tratamento.
Isto significa que soluções personalizadas de cobertura de tratamento, mas também de prevenção, são fulcrais não só pelo seu impacto para o cliente final, mas também como parceiro político e económico de “combate” a estas doenças. Ao reduzir o impacto económico e diminuição de desigualdades, a cobertura de seguros permite que prestadores de serviços de saúde tenham maior sucesso e eficácia no tratamento e que empresas beneficiem do bem-estar (de saúde e económico) dos seus colaboradores.
Que modelos de negócio funcionarão no futuro?
A questão coloca-se: de onde virão os serviços e o dinheiro para pagar os cuidados e a prevenção destas doenças? Como podem os seguros ajudar a combater o crescimento destas doenças, mas mantendo formas viáveis de aumentar as suas economias de escala?
Vários especialistas sugerem que o futuro dos seguros de saúde para os clientes dos países onde o peso das doenças não-transmissíveis está a aumentar rapidamente dependerá de:
- Expansão de parcerias público-privadas que permitam subsídios para benefícios abrangentes e que incluam cuidados preventivos e primários.
- Implementar uma variedade de tecnologias digitais (como biometria e funções suportadas por telefone móvel) que permitam escala e eficiência nos seguros (para inscrição e reclamações) e prestação de serviços de saúde (protocolos de tratamento).
- Integrar programas de financiamento e prestação de serviços que visem os cuidados e a prevenção de doenças não-transmissíveis: telemedicina, e promoção da prevenção na gestão de doenças, em conjunto com os seguros.
- Introduzir um grande número de clientes de “primeira viagem” em seguros com produtos “iniciais” simples que cubram tratamentos e serviços que proporcionem formas de prevenção, apoiados por tecnologia móvel.
Com o tempo, e à medida que os benefícios dos seguros de saúde nesta área sejam melhor reconhecidos pelos clientes, será imperativo combater as doenças não-transmissíveis para que a escala e a sustentabilidade que pretendemos alcançar com os seguros de saúde – e mais amplamente com o serviço nacional de saúde e todos os seus prestadores – se concretizem.