Os antibióticos são uma ferramenta indiscutível na batalha contra infecções bacterianas. No entanto, esta ferramenta poderosa traz consigo uma responsabilidade relevante, a má utilização destes medicamentos tem implicações importantes para a saúde do indivíduo e da comunidade. A resistência bacteriana emerge como uma ameaça real e em constante crescimento. Compreender a importância do uso racional de antibióticos, que implica por vezes a prudência de aguardar pela evolução dos sintomas em determinados cenários clínicos, não é apenas vital, mas também urgente para mitigar a disseminação desta ameaça cada vez mais premente. 

Na resistência bacteriana, as bactérias evoluem e criam resistências aos efeitos dos antibióticos, num processo análogo a um exército que aprende a neutralizar as armas do inimigo. Este processo complexo é promovido pelo uso indiscriminado e inadequado de antibióticos. Um exemplo concreto deste desafio é o caso  de uma pessoa que apresenta um quadro com tosse persistente. Embora se possa tratar de uma infecção bacteriana, muitas infecções respiratórias têm origem viral, alérgica ou até medicamentosa (chamada iatrogénica). Em qualquer dos três casos, administrar um antibiótico vai, por um lado, revelar-se ineficaz e, por outro, favorecer o desenvolvimento da resistência bacteriana.

O corpo humano é dotado de um sistema imunitário notável, capaz de combater e debelar infecções leves sem necessidade de intervenção farmacológica. No caso, por exemplo, de uma pessoa que sente uma dor de garganta, embora se possa tratar de uma infecção bacteriana, a dor de garganta tem com frequência origem viral. Embora existam sinais ou sintomas que apontem, ora para uma causa bacteriana, ora viral, esta causa nem sempre é clara, principalmente no início da apresentação dos sintomas e sinais que constituem o caso clínico. Nestes casos, pode ser prudente adoptar uma postura mais conservadora e aguardar alguns dias para avaliar a evolução dos sintomas, ainda que sobre vigilância médica.  

A sociedade moderna é caracterizada pela instantaneidade, abundância de informação disponível e expectativa de resultados rápidos. Contudo, é de suma importância entender que a prescrição precipitada de antibióticos pode gerar malefícios mais duradouros do que benefícios imediatos, para o indivíduo e para a população. Outro exemplo frequente é o caso da infecção urinária (infecção do trato urinário – ITU). Embora muitas ITUs tenham origem bacteriana, nem todas necessitam de uma intervenção antibiótica imediata. A análise criteriosa da urina e observação atenta dos sintomas, permite determinar se a infecção é de facto bacteriana, se requer tratamento com antibióticos e, ainda, qual o antibiótico mais aconselhado. 

A resistência bacteriana aumenta a dificuldade crescente de tratamento de bactérias multirresistentes que impactam o indivíduo, mas também a comunidade. As bactérias resistentes ao serem transmitidas de pessoa para pessoa, tornam o tratamento de infecções comuns, uma tarefa mais complexa e dispendiosa. Assim, infecções que eram facilmente tratadas, agora exigem abordagens terapêuticas mais intensivas devido a esta resistência.  

Esta é uma herança que transmitimos às gerações vindouras. Ao utilizarmos antibióticos sem critério, abrimos espaço para que as bactérias se adaptem, diminuindo ou eliminando a eficácia destes medicamentos essenciais. O desenvolvimento de novos antibióticos é um processo moroso, complexo e dispendioso e, uma vez que a resistência se estabelece, as nossas opções de tratamento decrescem de forma substancial. Para combater estes riscos, é crucial entendermos e promovermos, enquanto indivíduos, o uso adequado de antibióticos. Se é importante reconhecer quando um tratamento é necessário, é igualmente relevante reconhecer quando é prudente aguardar e observar a evolução dos sintomas. Adoptar uma abordagem mais criteriosa e prudente na prescrição e utilização de antibióticos é uma contribuição significativa para a salvaguarda do potencial destes medicamentos na manutenção da saúde humana. 

O uso racional de antibióticos é uma necessidade indiscutível. A resistência bacteriana é uma ameaça que pode ser minimizada. Para tal, é importante saber reconhecer que nem todas as infecções beneficiam do tratamento com antibióticos e que, muitas vezes, o nosso próprio organismo é capaz de debelar infecções menores. Assim, por vezes, aguardar pela evolução do quadro clínico é uma estratégia sensata, especialmente em relação a infecções que podem ser causadas por vírus, fungos ou outros microorganismos. A preservação da eficácia dos antibióticos para as gerações futuras, exige uma abordagem informada e criteriosa, na qual a paciência e o discernimento desempenham papéis de destaque na busca contínua pela saúde.