Em Portugal em cada hora três portugueses sofrem um acidente vascular cerebral (AVC), sendo neste momento uma das principais causas de morte e incapacidade no nosso país. Estima-se que destes, uma pessoa não sobreviverá e que as outras duas poderão ficar com sequelas.
As sequelas do AVC, de gravidade variável, dependem da área do cérebro que foi afetada e incluem: alterações da força muscular, sensibilidade e equilíbrio (com consequente dificuldade na marcha e na fala), alterações cognitivas (como na atenção e memória), entre outras. Assim, é uma situação que tem habitualmente um impacto direto relevante na qualidade de vida de quem sofre o AVC. No entanto, esta situação dá também origem a alterações nos padrões familiares, que afetam o doente, mas também quem o rodeia e quem cuida. O papel do cuidador no período de recuperação, ou em casos que deixam sequelas mais graves, coloca vários desafios, nem sempre fáceis de ultrapassar. A responsabilidade de ser o “cuidador” pode exigir um esforço muito grande, tanto a nível físico como mental. Assim, é crucial adotar certos princípios para mitigar os riscos associados a este novo papel.
Enquanto alguns sobreviventes de AVC e seus cuidadores conseguem gerir as novas necessidades, rotinas e exigências de maneira mais tranquila e eficaz, é frequente haver reações que expressam negação, apreensão ou mesmo angústia por considerarem não estar à altura do desafio. Em situações prolongadas o cansaço é frequente, com a acumulação de períodos de stress, originado por uma sobrecarga emocional e física sobre si próprios.
Algumas ações podem ajudar a gerir melhor a situação e ultrapassar os desafios que esta situação coloca. O acesso a informação clara sobre a condição, saber o que pode esperar, avaliar antecipadamente as necessidades de apoio e saber como e onde o procurar, não só permite cuidar melhor, mas também manter a capacidade de continuar a cuidar.
- Procurar informação sobre o AVC: É importante compreender os efeitos do AVC e as expectativas de recuperação. Assim, consegue preparar-se melhor para os desafios que podem surgir e compreender melhor quem sofre desta condição.
- Participar na Reabilitação: Para conseguir ajudar em casa é importante estar presente em algumas sessões de tratamento. É o caso de sessões de fisioterapia, terapia ocupacional e terapia da fala e ainda intervenções de enfermagem no treino das atividades de vida diária. Estando presente, vai conseguir aprender os exercícios e atividades recomendadas.
- Aprender a Comunicar: São frequentes alterações da comunicação após um AVC e aqui o papel dos cuidadores também é muito importante. É preciso ser paciente e encorajar uma comunicação simples, recorrendo à utilização de formas de comunicar, como gestos ou imagens, caso exista essa necessidade.
- Adaptar o Ambiente Doméstico: Procure simplificar o ambiente de modo a facilitar a mobilidade e a independência do doente. Considere esta adaptação como um aliado. Pondere a colocação de barras de apoio no wc, rampas para cadeiras de rodas e utensílios adaptados para alimentação quando necessário.
- Cuidar da Saúde Emocional: Encoraje a expressão de sentimentos, o apoio emocional é tão importante quanto o físico. Procure apoio psicológico profissional para ambos.
- Prevenir o Stress: Cuidar de alguém pode ser extremamente exaustivo. por isso procure apoio de outros familiares, grupos de apoio ou serviços de cuidados domiciliários para assim tentar evitar a exaustão.
Quem cuida desempenha um papel crucial na recuperação e qualidade de vida do doente.
Ser cuidador é mais do que uma simples responsabilidade, é um ato genuíno de amor e dedicação. A par dos desafios que possam surgir, é essencial lembrar-se de que o seu apoio desempenha um papel fundamental na jornada de recuperação da pessoa que necessita de cuidados. Não hesite em procurar ajuda bem como informações adicionais junto de profissionais de saúde e grupos de apoio. Tenha presente que o seu bem-estar é tão importante como o da pessoa que está a receber os cuidados. Priorizar o autocuidado não é um ato de egoísmo, mas sim uma necessidade.
Ao cuidar de si mesmo, irá estar em melhor posição para cuidar melhor do outro.
Cuide de si!
Curiosidades:
O AVC é uma deficiência neurológica súbita causada por falta de irrigação sanguínea ou hemorragia no cérebro. Esta é uma doença multifatorial, isto é, causada por diversos fatores. Como outras doenças crónicas cardiovasculares, têm como fatores de risco a tensão arterial, as gorduras e açúcar elevados no sangue e o excesso de peso, entre outros. Apesar de poder haver influência de genes para a presença destes fatores de risco, eles são em grande medida impactados pelo comportamento e estilo de vida. Embora difícil, os comportamentos podem ser modificados, ao contrário de outros fatores como a idade. Para além do impacto direto das mudanças de comportamento nos fatores de risco, já foi demonstrado que podem modificar factores genéticos, contribuindo assim por estas duas vias para a diminuição do risco de ter um AVC.
De forma a diminuir a probabilidade de ter um AVC deve concentrar os esforços na adoção de um estilo de vida mais saudável tentando assim controlar e tratar adequadamente os fatores de risco modificáveis, pois estes só dependem de si!
Sinais de Alerta – os 5 F’s
Fonte: